São alguns dias de horror, mas de extrema alegria quando vejo tudo bagunçado sobre a cama e fotos e livros se misturam pelo quarto. O meu quarto é um lixo. Mas gosto de tudo aquilo.
De repente, estou de volta ao meu baú, parte está aqui em São Paulo e a outra no Pará. Esta semana me levou a rever uma antiga pesquisa sobre o vocabulário dos mundurukus, povo indígena do Rio Tapajós, região da cidade onde nasci, Itaituba, no estado do Pará.
Mas a pesquisa do Vocabulário Munduruku estava datilografada e tive o trabalho de digitar cada página, cada nome. Não deveria errar nada.
Por vezes, tenho nostalgia de héroi. Queria apenas possuir uma super câmera filmadora e viajar Tapajós a dentro para conhecer as aldeias mais distantes dos mundurukus e criar um documentário que revelasse a alma deste povo desconhecido.
É como se eu quisesse ser a junção de antropólogo e cineasta, posto que não consigo pensar a academia sem a arte.
Mas o meu baú continua empoeirado e, quando tenho tempo, tento corajosamente colocar os fragmentos em dia, como se quisesse concertar o mundo. Como se quisesse concertar a mim mesmo.
Vou levar o "Vocabulário Munduruku/Protuguês" para uma entrevista na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo. E, por razões desta entrevista, ando agitado, revendo os baús e textos antigos (Não tão antigos). É modo de expressar.
Daqui, de onde estou agora há uma janela aberta para a rua... Seguro-me aos meus baús, tenho medo deste céu que está cinza, sempre anunciando que vai chover.