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quarta-feira, 9 de abril de 2008




















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Talvez o mímico Marcel Marceau tenha sido a minha grande descoberta neste primeiro semestre de 2008, graças à minha professora de clown, Lígia.

A mímica é uma arte tão lírica quanto a poesia. Difícil como a poesia.

Também Bob Dylan com a sua música triste foi um grande encontro. Ele me levou à minha infância amazônida.

Penso que Chaplin (ou o Carlitus) e Marceau estão impregnados no meu ser. Desejo escrever um poema para "O livro da Embriaguez" com o título "Com Chaplin e Marceau". Será um poema corajoso. Não me peguntem o que é um poema corajoso.
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10 de março 2008



A esta hora refutar para que
Se o silêncio é um mérito abstrato,
Se Beirute está distante?


A esta hora os demônios estão fervendo no asfalto.

[Beirute? Eu odeio Beirute.

E tenho vontade de cuspir a língua para fora,

O cérebro para afora,

O ânus para fora.]



Não posso rir com este canibalismo dentro das veias.

Com este rapaz morto transpirando intimamente

Com o meu suor.

Não posso tomar coca-cola com limão.

Meu deus, nada posso.


Merda... este naturalismo que não finda.

Isto é teatro, meu caro Ernesto.

A realidade? Digam a ele que a realidade

É uma invenção quase susceptível.

E que o Dr. Simão Bacamarte, por vezes, chegou ao orgasmo,

Mesmo com masturbação verbal.


Fazer sexo não é tão engraçado quanto parece.

Não posso rir enquanto este rapaz morto insiste em fotografar

As minhas malícias.

À noite, colocamos o colchão na sala
Para assistir Almódovar.

Não preciso mentir: Borges foi um escritor ressentido?

Não fico ressentido quando as meninas da Consolação

Põem os peitos para fora,

Posto que os travestis merecem todas as elegias do mundo.

Mas prefiro a frieza das estátuas.

Eu faço sexo em silêncio
E, em silêncio, tranco a porta

Quando é noite

E o rapaz morto dorme terno com seu desespero.

Últimos fantasmas




São Paulo, 9 de abril 2008





Acho absolutamente ridículo que alguém passe a tarde dormindo. Talvez eu pudesse me acostumar com essa vil realidade e não condenar o meu tratado diário sobre o ócio. Mas durmo às 14 hrs e acordo, por vezes, às 16 hrs. E perco horas inteiras do que poderia ser um exercício de criação. Perco a tarde, o dia, a vida. Decerto, este hábito insistente do sono seja a minha pobre defesa para um enredo destinado ao fracasso. Se eu fosse pelo menos boêmio, mas não. Não sou nada. Durmo e algumas vezes escrevo algo que valha.


Ontem uma estudante do curso de Psicologia da Universiade São Marcos comentou sobre a Praça Presidente Roosevelt , um lugar com vários bares e teatros alternativos em São Paulo, como os Sátyros. Seria o meu lugar natural de habitação. Eu queria viver entre aquelas mesas, tomando minha cerveja e escrevendo minha poesia maldita. Porém, falta-me companhia para freqüentar. E mesmo sozinho sinto um certo desânimo. Havia prometido a mim mesmo que terminaria "O Livro da Embriaguez" num daqueles barzinhos. Mas nada. Nada nada nada. O meu lugar sagrado é a minha cama. E odeio admitir que o meu lugar sagrado é a minha cama.


Ano passado fiz um acordo comigo mesmo que se fosse para viver eu viveria, então, de uma maneira mais intensa. Se não fosse assim daríamos um término a isso. O que me faz viver, pergunto-me. Oh, Deus, o que me faz viver? Uma resposta sussurante escorre de meu pensamento: a literatura e o teatro. A literatura e o teatro? Que literatura? Até agora nada foi publicado, nada foi escrito com fôlego. Nem o hábito de escrever constantemente eu tenho. Se eu pelo menos usasse as horas para escrever solitariamente como Marcel Proust. Se eu fosse pelo menos um escritor solitário, um poeta solitário. E o teatro? O que há é uma humilde tentativa de me profissionalizar no Teatro Escola Macunaíma.Contento-me com alguns momentos de ensaio no domingo, apenas uma terapia para me manter como ser vivente.


O dinheiro é pouco, pouquinho. As noites em que eu poderia ensaiar alguma peça são entregues ao Curso de Psicologia para onde vou sem muita alegria. Não gosto daquela gente dizendo que tudo é trauma, psicose, neurose, recalque... Para dizer a verdade detesto essas palavras. Até parece que o ser humano é tão facilmente compreensível. Por que não abandono o curso, uma vez que já cursei Filosofia? Por que eu não deixo essa convenção toda e não me entrego de uma vez por todas aos palcos? No segundo semestre vou fazer uma ou duas matérias e deixo os outros dias para ensaiar, para ingressar em um grupo de teatro. Por Deus, preciso de um grupo de tatro, com gente legal, com gente doida, com gente que não esteja impregnada do morfo dessa sociedade patética, desses percalços de regras e muros.


Fico no curso de Psicologia para ter uma possibilidade profissional além da educação (atualmente sou professor de Filosofia no Ensino Médio). Sei que finaceiramente viver de teatro no Brasil é quase sinônimo de ser pobre. Os atores e demais envolvidos na arte cênica trabalham pra caramba e ganham um mísero retorno finaceiro. Fico pensando numa coisa importante: eles são mais felizes do que muita gente nas salas de escitório. Na verdade, parece-me que sei do meu desejo de ser livre, no entanto existe uma merda de medo que me paraliza. E o tempo passa e a vida passa. Meu Deus, eu preciso agir, eu preciso ser. livra-me desta preguiça e deste medo horrível.


Que eu morra pobre, mas morra feliz! Ou melhor: que eu viva na pobreza, mas viva feliz!


Rudinei Borges

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Estragon


"Lembro dos mapas esquisitos da Terra Santa. Coloridos. Bem bonitos. O mar de um azul bem claro. Dava sede só de olhar. É para lá que vamos, eu dizia, é pra lá que vamos na lua-de-mel. E como nadaremos. E como seremos felizes."

(Fala de Estragon na peça "Esperando Godot" de Samuel Beckeet)