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segunda-feira, 26 de abril de 2010

O livro do suicídio


[Florbela Espanca]

Em dois de dezembro de 1930, Florbela encerra seu Diário do Último Ano com a seguinte frase: “… e não haver gestos novos nem palavras novas.” Às duas horas do dia 8 de dezembro – no dia do seu aniversário Florbela D’Alma da Conceição Espanca suicida-se em Matosinhos, ingerindo dois frascos de Veronal. Algumas décadas depois seus restos mortais são transportados para Vila Viçosa, “… a terra alentejana a que entranhadamente quero”.



[Virginia Woolf]


No dia 28 de Março de 1941, após ter um colapso nervoso Virginia Woolf suicidou-se. Ela vestiu um casaco, encheu seus bolsos com pedras e entrou no Rio Ouse, afogando-se. Seu corpo só foi encontrado no dia 18 de abril.

Em seu último bilhete para o marido, Leonardo Woolf, Virginia escreveu:

“Querido,

Tenho certeza de estar ficando louca novamente. Sinto que não conseguiremos passar por novos tempos difíceis. E não quero revivê-los. Começo a escutar vozes e não consigo me concentrar. Portanto, estou fazendo o que me parece ser o melhor a se fazer. Você me deu muitas possibilidades de ser feliz. Você esteve presente como nenhum outro. Não creio que duas pessoas possam ser felizes convivendo com esta doença terrível. Não posso mais lutar. Sei que estarei tirando um peso de suas costas, pois, sem mim, você poderá trabalhar. E você vai, eu sei. Você vê, não consigo sequer escrever. Nem ler. Enfim, o que quero dizer é que é a você que eu devo toda minha felicidade. Você foi bom para mim, como ninguém poderia ter sido. Eu queria dizer isto – todos sabem. Se alguém pudesse me salvar, este alguém seria você. Tudo se foi para mim mas o que ficará é a certeza da sua bondade, sem igual. Não posso atrapalhar sua vida. Não mais. Não acredito que duas pessoas poderiam ter sido tão felizes quanto nós fomos.”V.


[Mário de Sá Carneiro]

Depois de algum tempo passado na Quinta da Victória, voltou a Lisboa, onde conviveu com outros literatos nos cafés, alguns dos quais membros do grupo ligado à revista Orpheu, cujo primeiro número, saído em Abril de 1915 e imediatamente esgotado, provocou enorme escândalo no meio cultural português. No final do mesmo mês, publicou Céu em Fogo. Em Julho desse ano saiu o Orpheu 2 e, pouco depois, Sá-Carneiro regressou a Paris, de onde escreveu a Fernando Pessoa comunicando a decisão do pai de não subsidiar o número 3 da revista. Agravaram-se, por esta altura, as crises sentimentais e financeiras do poeta (já por várias vezes tinha escrito a Fernando Pessoa comunicando o seu suicídio). Sá-Carneiro suicidou-se, com vários frascos de estricnina, a 26 de Abril de 1916, num Hotel de Nice, suicídio esse descrito por José Araújo, que Mário Sá-Carneiro chamara para testemunhar a sua morte. Deixou a Fernando Pessoa a indicação de publicar a obra que dele houvesse, onde, quando e como melhor lhe parecesse.


[Maiakóvski]

A fase de depressão que atravessa é agravada por sucessivas afecções da garganta, particularmente penosas para quem procurava sempre falar em público, e cuja poesia está marcada pela oralidade. Termina o poema “A plenos pulmões”. Suicida-se com um tiro (14 de abril de 1930).


[Ana Cristina Cesar]


Ana Cristina Cesar começou a publicar poemas e textos de prosa poética na década de 1970 em coletâneas, revistas e jornais alternativos. Seus primeiros livros, “Cenas de Abril e Correspondência Completa”, foram lançados em edições independentes. As atividades de Ana Cristina não pararam: pesquisa literária, um mestrado em comunicação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), outra temporada na Inglaterra para um mestrado em tradução literária (na Universidade de Essex), em 1980, e a volta ao Rio, onde publicou “Luvas de Pelica”, escrito na Inglaterra. Em suas obras, Ana Cristina Cesar mantém uma fina linha entre o ficcional e o autobiográfico.

Cometeu suicídio aos trinta e um anos, atirando-se pela janela do apartamento dos pais, no décimo terceiro andar de um edifício da rua Tonelero.