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quarta-feira, 30 de julho de 2008

Texto do dia 29 de julho 2008 para "O Livro da Embriaguez"


(Tardinha no Ipiranga, São Paulo - Por Rudinei Borges)


O que fazer, meu caro? Esta é a pergunta de todas as manhãs. Antes eu não perguntasse nada, não vivesse com estas indagações corroendo o cérebro. Antes não fizesse nada. Mas quando não faço nada me culpo, porque as pessoas são céleres; porque de minha cama ouço os automóveis seguindo para o infinito e as pessoas murmuram às cinco horas da manhã. E quando acordo às cinco horas da manhã tenho sono o restante do dia. Como tenho agora. E ter sono não é nenhuma vergonha, como também não é nenhum mérito. Se eu dormisse menos seria maior e as minhas ambições talvez estivessem no ápice.

O que posso querer de mim e do mundo e das pessoas? Que eu seja melhor, que o mundo seja melhor, que as pessoas sejam melhores? Decerto, não haveria tanta bondade para tantas coisas. Não pedi para estar aqui e tudo aqui é estranho. Pensei que com os anos tudo se tornaria familiar e que eu teria alguma vontade de andar por estes caminhos. No entanto, o mundo é feio e eu mesmo sou feio. E não lembro de contemplar por estes anos qualquer coisa que seja semelhante ao que dizem que é a beleza. É uma idéia vaga, um devaneio vão.



(Ipiranga, São Paulo - Por Rudinei Borges)



Não, não posso querer nada que não seja uma idealização patética. Autorizo, então, o sofrimento e a morte. E ainda assim odeio o sofrimento e a morte. Não sou perfeito, porém não tenho desejado a perfeição. Não sou belo, porém não tenho desejado a beleza. E o pior que podemos encontrar num homem é sua capacidade de não desejar. E aqueles que não desejam não são mais mortos-vivos que aqueles que desejam. Temos uma multidão de fantasmas. Ser otário é uma atividade divertida, porque o otário não tem o que esperar a não ser um costumeiro desprezo das coisas das pessoas e de si mesmo.


Estas vozes cansam. O sono e a falta de sono cansam. Olho as pessoas e o que elas produzem. Olho para estes homens construindo estas casas. Olho para mim. Queria sentir orgulho disso tudo, amado Franz. Queria amar estas vozes, estes homens construindo estas casas amarelas. Contudo, nada. Nada vem, senão este aperto de cada manhã. Esta vontade de vomitar a própria existência. (Ernesto López)